Tenho absoluta certeza que você clicou nesse link pensando “o que, diabos, ela quer dizer com inimiga da menstruação?”. Pois bem, antes de embarcar para a Indonésia eu não me atentei devidamente ao assunto e acabou sendo um fator da cultura local que afetou diretamente a minha viagem e o meu roteiro, merecendo por isso um artigo explicativo. Além de questões culturais, há também o fator segurança, que definitivamente não deve ser ignorado. Vamos entender mais!
Hinduísmo Balinês e menstruação
Bali tem milhares de templos. Se você vai até a ilha espera, sem a menor sombra de dúvida, que irá visitar alguns deles, não é verdade? Não se você for mulher e estiver menstruada.
A menstruação, para Hinduísmo Balinês, é considerada impura e mulheres durante esse período não podem entrar na cozinha e manusear utensílios e alimentos, não podem ter relações sexuais com seus maridos, não podem dormir junto com a família, devem manter suas roupas separadas das roupas que ela usa para ir ao tempo e, principalmente, não podem entrar nos templos.
Oi? É isso mesmo: NÃO podem entrar e rezar nos templos.
E sim, em Bali, fui impedida de entrar em um templo por estar menstruada. E não, eu não sigo o Hinduísmo Balinês.
É óbvio que a culpa foi 100% minha, já vou explicar melhor.

O lindo templo que eu fui impedida de entrar. Foto: marido!
Menstruada e barrada
Mais um dia de turismo em Bali, minha menstruação tinha vindo naquele dia (ok, quem nunca), fomos visitar um templo e chegando lá, na parte em que pegávamos o sarong emprestado, vi uma placa imensa e chamativa avisando, em várias línguas, que mulheres menstruadas não deveriam entrar no templo. Na hora fiquei curiosa, pensei que poderia ser algo sério e no auge da minha inocência/burrice questionei o guia: “isso é verdade?” Ele disse que sim. Aí entra a MAIOR bobeira que dei na viagem, eu disse: “sério? mas eu estou menstruada e não voltarei mais aqui. mesmo assim não posso entrar?”. Ele disse que não e que, como eu tinha contado para ele, ele não poderia permitir a minha entrada – como se fosse uma espécie de “pecado” para ele, já que agora ele tinha conhecimento.
Eu fiquei estatelada. Marido ficou sem acreditar na bobeira que eu tinha dado e seguiu sem mim para o interior do templo. Fiquei do lado de fora, tentando digerir tudo aquilo sobre “mulher” + “fenômeno biológico natural” + “impureza” + “pecado”. Confesso: foi difícil manter a pose e não aprontar um barraco feminista de primeira. Mas eu não podia… Eu não tinha o direito… Eu era a turista e invasora ali e precisava dançar conforme a música. Tive que engolir todos os meus argumentos e um silêncio mortal se fez entre nós dois, eu e o motorista, que ficou do lado de fora “me vigiando”.
Pior de tudo: aquele seria o primeiro templo de vários que visitaríamos no dia. A solução foi adequar o roteiro para que eu não tivesse que ficar de fora de novo, problema que joguei em cima do motorista, fiscal de menstruação alheia. Não preciso nem dizer que essa foi a única vez na viagem que fiz alarde do meu estado, né?

A placa que me impediu de atravessar a rua e entrar no templo. Foto: arquivo pessoal
Menstruada e comida de dragão
E se você acha que esse é o único motivo pelo qual mulheres menstruadas não são bem vindas à Indonésia, te lanço mais uma: se estiver menstruada, esqueça Komodo.
Como falei no artigo do nosso roteiro, ir até Komodo e ver um dragão de perto seria um ponto alto da viagem! Não era minimamente aceitável ir até lá e não poder ver os incríveis répteis de perto. Porém, o olfato do dragão de Komodo é poderosíssimo e ele consegue farejar sangue a muitos quilômetros de distância, independente da origem (isso…), por isso, caso esteja menstruada, ou com qualquer outro corte no corpo, não é recomendado que visite a ilha. Se quiser arriscar, desejo boa sorte, pois eu tive a (in)felicidade de vê-los correndo e acredite, eles correm bem rapidinho e é apavorante!

Dica: fique sempre atrás do dragão de Komodo. Foto: arquivo pessoal
Eu não estava menstruada quando cheguei a Komodo – já sabendo desse fato específico sobre o olfato antes de programar a viagem, ajustei a ida com o meu ciclo (tá achando que é fácil a vida de ser mulher, blogueira e ainda organizar viagem? vai vendo…). Além disso, a ida a Komodo incluía mergulhos, o que também não é recomendado caso esteja “naqueles dias”. Recomendo fortemente que você faça esse planejamento também! Nos templos você pode ocultar o seu estado, mas os dragões não serão enganados. Eu, pessoalmente, não arriscaria nem com absorvente interno ou coletor menstrual.
Menstruou? Não entre no mar!
Finalmente, para completar as tragédias que podem te acontecer caso viaje menstruada para a Indonésia, é virar comida de tubarão. Esteja você só tomando um banho, surfando ou fazendo mergulho, não é uma boa ideia entrar na água menstruada. É um mito achar que a menstruação cessa ao entrar na água – ela apenas se dilui e não é detectada por você, mas os tubarões saberão de longe sobre o seu estado vulnerável. Melhor evitar, né?

Snorkeling em Komodo sem sangue e com segurança. Foto: arquivo pessoal
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Espero realmente que possam aproveitar as preciosas dicas desse artigo que podem mudar o rumo da sua viagem pela Indonésia. Tomem bastante cuidado com essa questão da menstruação e animais selvagens, pode ser realmente perigoso. Quanto à decisão de entrar nos templos menstruada, vai de sua própria consciência. Pelo menos agora, se você leu esse texto até aqui, já chegará lá sabendo dessa informação, coisa que não aconteceu comigo. Até a próxima!
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