Querido diário, estou em Muscat. Sim, eu sei que não estava nos planos eu ficar aqui, mas aconteceram uns imprevistos e tive que esperar por 24 horas antes de ir para Abu Dhabi. Mesmo ainda não tendo chegado ao destino final, tenho um monte de impressões que gostaria de compartilhar com você.
O meu voo fez escala em Istanbul antes de vir para Muscat. A primeiríssima impressão foi a quantidade de mulheres usando abaya, burqa e todas as outras variações. Não há como não notar aquelas roupas grandes e pretas. É curioso. Intrigante. Um pouco perturbador. Havia muita gente na sala de espera do aeroporto. Muitos muçulmanos. Muitas mulheres de preto, homens de branco e crianças. Muitas crianças.
E eu com o Dexter.
Já sabia que muçulmanos não gostam de cachorros, então não quis me aproximar deles e nem sentar ao lado. Eu esperava que eles fossem olhar torto para o Dex, mas ao invés disso, faziam um olhar duro para mim. Eles não olhavam para o cachorro. Realmente, devem considerá-lo muito impuro, a ponto de não merecer os olhares.
Felizmente, esse tratamento não foi unanimidade. Vários muçulmanos, adultos e crianças, olhavam carinhosamente para o Dex e até brincavam, mas não tocavam.
O que foi realmente hilário, é que algumas pessoas perguntaram: “Isso é cachorro ou gato?”. Hein?!?? Comaaaassimmm?

Nenhum dos dois. Eu sou o Superman! Foto: arquivo pessoal
Bom, já dentro do avião, o comissário de bordo me pergunta se eu estou com cachorro e eu digo que sim. Aí ele me pede para acompanhá-lo e, óbvio, eu pensei: deu merda. Só que não! Mal acreditei quando ele nos acomodou na Business Class e me disse “Eu te entendo, também tenho cachorro”. Obrigaaadaaaa!!! Lá fomos nós, voando de business por cortesia! 🙂
Sim, sim, diário, foi maravilhoso. Comida impecável, conforto, atenção, mimo… Já pode querer ganhar na loteria e viajar assim toda vez?

Dexter em sua casinha voando de Business na Turkish Airlines. Foto: arquivo pessoal

A “entrada” da refeição da Business Class. Foto: arquivo pessoal
Iríamos encontrar uma amiga em Istambul e chegaríamos juntas em Muscat, mas ela perdeu o voo. Ela também estaria com a sua pequena Luna, então faríamos todo o processo de papelada dos cachorros juntas. Bom, a situação era crítica, mas já que não adiantava ficar choramingando, estufei o peito e fui atrás de agilizar tudo sozinha mesmo.
No aeroporto de Muscat foi uma piada! Ninguém lá sabia se eu precisava de visto (eu sabia que não – brasileiros não precisam de visto para entrar em Omã) e aí ficavam mandando eu perguntar um, outro, aquele também… Exatamente a mesma coisa que já conhecemos no Brasil. Fazer o quê, né?
Passada a imigração, vamos resolver sobre o cachorro. E aí a surpresa: ninguém vai me parar e pedir os documentos dele não? Eeeiii, eu estou com um cachorrooooo!! Cadê o veterinário?? Para quem eu entrego os papéis? Isso mesmo, diário, eu poderia ter saído do aeroporto sem NINGUÉM me perguntar nada do animalzinho… Mas como eu precisava dos papéis que eles me dariam para atravessar a fronteira dos Emirados Árabes, fui atrás do veterinário eu mesma! E eu já contei que eram 2 horas da manhã? Pois é…
Enquanto esperava o veterinário chegar, vários funcionários do aeroporto vieram falar comigo. Eu queria ter filmado ou tirado foto, mas não podia. Era mais ou menos assim: estava eu sentada, com as malas e o cachorro, quando 2 jovens vestidos de branco, arrastando a chinela e com um sorriso imenso na cara vinham falar comigo. Eles me perguntavam meu nome (e não conseguiam repetir), o nome do cachorro (e ficavam tentando repetir – sem sucesso) e, por fim, de onde eu era. Aí começa a bagunça… Quando a gente diz que é brasileiro, algo se abre nas mentes das pessoas e elas tem ABSOLUTA CERTEZA que você é do Rio de Janeiro, que conhece o Ronaldinho e que sabe sambar. E todo brasileiro sabe que é assim mesmo, não é? (mentira.)
Enfim, depois que eles faziam festa porque eu era brasileira, eles saiam e aí chegavam outros 2 jovens vestidos de branco, arrastando a chinela e com um sorriso imenso na cara e me faziam as mesmas perguntas. Não. Não eram os mesmos… Mas é complicado diferenciá-los quando eles estão usando essa túnica branca. E era muito engraçado vê-los andando sempre em dupla e de chinelo, dando um ar muito despojado para funcionários de aeroporto. Mais parecia a hora do recreio.
Quando encontrei com o veterinário, ele foi extremamente gentil, me impedindo de arrastar o carrinho com as malas, aquela velha coisa esquecida de cavalheirismo mesmo, sabe? Quando fui na casa de câmbio do aeroporto para trocar dinheiro, o atendente (depois de ver o meu passaporte e fazer as mesmas brincadeiras com brasileiros) me deu um arranjo de flores! Isso mesmo, diário, flores! Às 3 horas da manhã, apesar da minha cara de derrota e cansaço, eu ganhei flores!

O arranjo de flores que ganhei em Muscat. Foto: arquivo pessoal
Além disso, eles sempre me perguntavam (depois de saber que eu sou casada) se eu tenho filhos. Bom, acho que já deu para entender esse lance de poligamia daqui… Aguardo as cenas dos próximos capítulos, agora com o marido do lado! Rs.