Uma das coisas que mais alteraram a nossa rotina aqui nos Emirados foi a mudança nos dias úteis da semana.
segunda é terça
terça é quarta
quarta é quinta
quinta é sexta
sexta é domingo
sábado é sábado
domingo é segunda.
Parece confuso? E é mesmo. Mas uma hora a gente se acostuma.
Nós, ocidentais, temos o costume de achar que as regras que praticamos valem para o resto do mundo e quem faz diferente é estranho, errado ou só doido mesmo. E não digo isso só por mim, mas também por várias pessoas com as quais converso diariamente. Sempre que levo algo novo “daqui” para “lá”, sou bombardeada com perguntas do tipo “mas por que?”, “nossa, que esquisito!”, “esse povo é tudo maluco”. Ou vai dizer que você nunca disse nenhuma dessas frases? 😛
A realidade é que existe um mundo gigante para cá de Bagdá e sim, eles têm a sua própria maneira de viver, inclusive muito bem sem os nossos costumes. A proposta desse blog, desde o primeiro post, foi conhecer para aprender e, com isso, me libertar dos meus preconceitos. Levo vocês nessa viagem para que consigam conhecer e aprender comigo, mas se livrar dos maus julgamentos, aí vai de cada um.
Achei importante tocar nesse assunto agora, pois a medida que eu for me “infiltrando” no universo multicultural daqui, vocês com certeza ficarão surpresos e poderão não concordar ou até se revoltar com o que eu vou dizer, mas tenham calma! Porque já disse Fernando Pessoa: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Voltando agora aos dias da semana, o motivo não é aleatório e assim como praticamente tudo aqui, está ligado à religião. Sexta-feira é o dia da semana mais importante para os muçulmanos. Eles acreditam que: “É um dia especial e abençoado, como nenhum outro”, “Deus tornou esse dia especial para a Sua adoração”, “É o dia da congregação”.
Essa “congregação” vale apenas para os homens e é a obrigação que eles têm de se reunir na mesquita, ao meio-dia, para ouvir sobre o Islã e adorar a Deus, em comunidade. Isso é algo muito, muito importante para eles. É dever de um muçulmano não negligenciar a oração da sexta-feira devido ao trabalho, estudo ou outros assuntos mundanos. Eles devem fazer da participação dessa oração uma prioridade, já que ignorá-la três vezes seguidas sem razão válida fará com que o crente se desvie da senda reta.
Como dá para notar, o assunto é sério.
Por esse motivo, eles “guardam” a sexta-feira para cumprir com os seus deveres como crentes. Da mesma forma que outras religiões mais próximas aos ocidentais guardam outros dias para adoração a Deus (cristãos católicos guardam os domingos; cristãos adventistas, os sábados). Percebem como é uma questão de ponto de vista?
Até pouco tempo atrás, o “fim de semana” nos países muçulmanos era a quinta e a sexta-feira. De uns anos para cá, isso vem mudando. Alguns países adotaram a sexta e o sábado; outros o sábado e o domingo. Originalmente, a quinta feira também era “guardada”, pois é o dia que eles jejuam e, além disso, quinta à noite já é sexta-feira.
Porém, para um mundo globalizado, misturado, antenado e cheio de relações comerciais “all over it”, isso não era muito prático. Imaginem para uma empresa com sede na Europa, com filial em um país muçulmano, onde durante apenas 3 dias os seus funcionários trabalhariam ao mesmo tempo. Foi justamente essa necessidade de se aproximar do calendário de trabalho dos outros países que impulsionou a mudança de quinta para sábado aqui nos Emirados Árabes Unidos. A sexta-feira continua sendo sagrada e guardada, mas a quinta passou a ser dia útil e eles “ganharam” um dia a mais coincidente com o mercado financeiro internacional.
É por isso que eu digo que a sexta virou domingo, pois nesse dia tudo é fechado, as ruas são mais desertas e quem não é seguidor do Islamismo aproveita para se dedicar ao “ócio e lazer do mundo”. Já o sábado, tem a mesma cara de sábado do Brasil: a maioria das pessoas não trabalha, mas outras sim; e podemos encontrar algumas coisas funcionando, dependendo do tipo de negócio. O domingo virou o primeiro dia útil da semana e, enquanto os que estão no Brasil ficam postando fotos de festas da véspera, aqui já está todo mundo no ritmo de trabalho normal, até a próxima sexta.
Confusões iniciais à parte, não há nada com o que não se possa acostumar. Para nós que cá estamos, trata-se apenas de trocar os dias de descanso, mas para quem precisa tentar resolver alguma coisa aqui (ou nas Embaixadas dos países muçulmanos em outros países – importante observar) é essencial se atentar para essas diferenças.
Os Emirados utilizam esse calendário desde 2006 e vários outros países árabes do Golfo Pérsico também fizeram essa mudança na mesma década. O último país a “abandonar” a quinta-feira foi o Yemen, que passou a adotar o sábado desde 2013.
Fontes: Islam Religion, Gulf News.