Poucas vezes me senti tão abobalhada em viagem como no Parque Aquático abandonado de Hue, no Vietnã. Eu mal conseguia conter o meu sorriso, a cara lerda de felicidade plena por estar um lugar tão… Tão único. Ainda não descobri a origem a minha tara por lugares abandonados, mas o fato é que a expectativa de visitar um lugar assim sempre resulta em uma satisfação garantida para mim. Amo lugares abandonados e, enquanto puder, continuarei a visitá-los.
Obviamente, o Parque Aquático de Hue não é o principal ponto turístico da cidade, e sequer é conhecido por toda a população local e menos ainda por turistas que estão pela região. Tive uma sorte imensa de achar por acaso um artigo na internet sobre o lugar enquanto pesquisava sobre a viagem e, sem a menor hesitação, fiz questão que nosso roteiro incluísse a cidade e que conseguíssemos visitar o Parque Aquático. E se eu estou escrevendo esse artigo, é porque deu tudo certo!

Parque Aquático abandonado de Hue, Vietnã. Foto: arquivo pessoal
O Parque Aquático do lago Thuy Tien, Hue
O Parque Aquático, atualmente abandonado, de Hue foi inaugurado em 2004 e funcionou por apenas 2 anos. Dizem que o dinheiro acabou e o Parque nem chegou a ser terminado. Verdade ou não, o fato é que o lugar está abandonado há mais de 10 anos e é incrivelmente mais legal do que se estivesse funcionando – minha modesta e sincera opinião.
Não há indicação em nenhum mapa ou roteiro turístico de onde fica esse lugar. Eu tive que ler e reler vários blogs gringos (que se aventuram mais por lá) e vasculhar Hue com o Google Maps, para achar o local correto e como chegar até lá. A minha busca obstinada deu certo e consegui marcar no mapa do nosso roteiro o lugar exato do Parque e onde estavam localizadas as principais atrações lá dentro. Porque eu gosto muito de vocês, vou deixar os mapas aqui [clique para aumentar]:
Na primeira imagem, temos a cidade Hue. Na segunda imagem vocês podem ver que o lago fica fora dos limites da cidade. Na terceira imagem, a distância a pé do nosso hotel ao lago/Parque Aquático abandonado – usamos o caminho cinza. Na quarta imagem, a demarcação dos pontos de interesse no Parque Aquático abandonado. Em toda a borda do lago há um caminho que dá para caminhar, nós fomos sempre por ele.
Como nota-se, o Parque foi construído nas margens do Lago Thuy Tien, em uma área afastada do centro de Hue. Mesmo que não houvesse qualquer Parque lá, o lugar seria atraente para um piquenique ou fim de tarde. É muito bonito. Claro, com o Parque, ficou além de bonito, interessantíssimo.
Como chegar ao Parque Aquático abandonado de Hue
A minha obsessão foi tanta que fiz questão de escolher um hotel que fosse perto do Parque, para que conseguíssemos visitá-lo no dia que chegaríamos a Hue, no começo da tarde. Programei todas as rotas do hotel para lá: quanto tempo gastaria se fosse a pé, se o hotel disponibilizaria bicicletas e tudo mais que consegui imaginar para evitar qualquer imprevisto. Que aconteceu mesmo assim.
Chegamos ao hotel, almoçamos, trocamos de roupa e, quando fomos pegar as bicicletas do hotel, a recepcionista nos informou que elas estavam em manutenção e demoraria uns 30min para nos entregar. Eu surtei e saí correndo do hotel em direção ao Parque, pois já era mais de 16h e não queria chegar lá sem a luz do dia. Por sorte, encontramos um taxista que nos levou até lá – depois de não entender qual era o lugar e, depois de entendido, não fazer ideia do porquê decidimos ir até lá.
A ideia da bicicleta teria sido muito boa, se tivesse funcionado. Uma outra sugestão – a melhor, na verdade -, é alugar uma moto para ir até lá e desbravar o lugar sobre 2 rodas. Como podem ver no mapa, as distâncias entre uma atração e outra são significativas e mal dá tempo de ver tudo. Além do mais, o calor era absurdo, a umidade excruciante e depois de rodar o Parque inteiro, você tem que pensar na volta. Alugue uma moto, vai por mim.
Conhecendo o Parque Aquático abandonado
O taxista nos levou ao lugar exato que eu havia pesquisado: a portaria medonha do Parque Aquático abandonado! O que eu não havia encontrado em minhas pesquisas é que haveria um cidadão cobrando pela entrada no Parque ABANDONADO! O cara, ao perceber que éramos turistas, chegando em um táxi, não hesitou em nos cobrar 10 mil VND (o equivalente a R$ 1,46) por pessoa para entrar no Parque. Depois, vimos que muita gente simplesmente passa direto pelo aproveitador. Se você estiver de moto, fica a dica! Nós pagamos, porque fazer o que, né?
Depois de passar pela portaria, o taxista nos deixou no limite de onde os carros chegam: na beira do lago, onde há várias esculturas, de um simpósio que ocorreu no local em 2006. Pegamos um caminho que contorna o lago para chegar no dragão, que ficava do lado oposto de onde chegamos. No caminho, vacas pastando na beira do lago, pessoas nos ultrapassando de moto, pessoas passeando!
MUITAS. PESSOAS. PASSEANDO.

Pai e filho caminhando pelo lago. Foto: arquivo pessoal

Vietnamitas no dragão do parque. Foto: arquivo pessoal
Acho que esse é o Parque abandonado mais populoso que existe! O lugar estava cheio de gente, em sua grande maioria moradores locais, jovens, que estavam ali fazendo bagunça, bebendo e com certeza aproveitando todos os esconderijos que o Parque proporciona. Vimos também famílias, crianças, idosos e alguns turistas ousados, como nós.
É claro que se o Parque estivesse, além de abandonado, vazio, seria infinitamente mais interessante, e apavorante, mas eu estava tão feliz de ter conseguido chegar até ali que tentei abstrair ao máximo da quantidade de pessoas que ocupavam as minhas fotos supostamente de algo “abandonado”.

Dragão do lago cheio de visitantes. Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Dentro do dragão. Foto: arquivo pessoal
A vista do dragão no meio do lago é surreal! Dentro dele ficava o aquário e na “boca” é um mirante. Entramos no aquário e aí, sim, foi um dos momentos mais bizarros do passeio. Estava tudo escuro, pisávamos e escutávamos os cacos de vidro sendo esmagados. Em volta, máquinas abandonadas, aquários quebrados, alguns com água até hoje. Muita pichação. Ligamos as lanternas dos celulares para ver bem onde pisávamos – é perigoso, gente – e nessa hora não havia mais ninguém lá, só eu e o marido, e um monte de fantasminhas de peixinhos.
Eu, como espírita, obviamente, acredito em fantasmas, que na verdade são espíritos. E embora sinta que a energia de alguns lugares não é nada bacana, a de lá não tem nada disso: é apenas horripilante mesmo, sem maiores suspenses de outro mundo. Pelo menos para mim…
Não ficamos muito nessa parte do aquário porque é realmente um breu e estava com medo, não de fantasmas, ou de assaltantes, mas de me machucar em algum vidro quebrado. A intenção do lugar é ser abandonado, e é também a sua magia, portanto, está tudo bem “largado” e “perigoso” mesmo. Caso visite, preste atenção por onde anda e onde esbarra 😉

Lanterna no celular = vida. Foto: arquivo pessoal

Aquários abandonados. Foto: arquivo pessoal
Do aquário, subimos pela espinha dorsal do dragão até alcançar a boca, ou o mirante. Nesse momento, fiquei emocionada, pois havia visto muitas fotos de viajantes por lá e repliquei as fotos com muita alegria (e suor, convenhamos, tava quente demá!). Até o marido que nem se empolga muito com esses lugares me pediu para tirar foto dele lá 🙂 A vista é muito linda! Podemos ver o lago e a mata que o circunda.

Escadas “de costela” para o mirante. Foto: arquivo pessoal

Mirante da boca do dragão! Foto: arquivo pessoal
Depois de sairmos de dentro do dragão, fomos para a parte dos toboáguas. Ela fica na margem oposta da que chegamos, portanto, seguimos por outro caminho. Nessa hora, até vi uns monges passeando no lugar (!!!) e um piquenique alcoólico de jovens, que inclusive deixaram todo o lixo no lugar depois 🙁

Religiosos passeando pelo Parque abandonado. Foto: arquivo pessoal

Monge tirando foto do dragão! Foto: arquivo pessoal

Jovens vietnamitas fazendo piquenique alcoólico. Foto: arquivo pessoal
Quando chegamos nos toboáguas, aí sim, estava abandonado mesmo. Não havia ninguém lá além de nós dois. Um silêncio mortal, um cenário apocalíptico. Os toboáguas estão escondidos no meio da mata, é necessário sair da trilha e caminhar entre as árvores para encontrá-los. Nessa hora, agradeci a mim mesma por estar de calça comprida, sapato fechado e ter passado repelente de insetos (invista nisso também!).
Ficamos ali por um bom tempo, explorando todos os ângulos do local. Andamos pelos toboáguas, descemos para as piscinas e aí foi o segundo momento mais bizarro, depois do aquário: as piscinas cobertas de lodo, plantas e animais que se mexiam que não conseguimos identificar. Como sei que o Parque já teve uns crocodilos, que foram recentemente resgatados e levados para um lugar mais apropriado, fiquei com receio de ser abocanhada por um bichão desses se chegasse muito perto da borda. Os pobres crocodilos do passado passavam fome lá. Eu não sei que tipo de bicho tem hoje naquelas piscinas, mas estava com vontade zero de descobrir por uma maneira “invasiva”.

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal
Hora de voltar para o hotel
Saímos do toboágua na hora em que o sol se punha. Rapidamente iria escurecer e eu não queria estar ali, no meio do Parque, que estava a cada minuto mais abandonado de verdade. Apertamos o passo, passamos mais uma vez pelo dragão e fomos para o lugar onde o táxi havia nos deixado.

Lindo pôr do sol no lago Thuy Tien. Foto: arquivo pessoal
Não conseguimos ir visitar o anfiteatro, porque já estava escuro. Mas, aproveitamos o zoom da câmera que era bom e ficamos espiando os jovens fazendo baderna lá. Caso você programe melhor a sua visita ao local, inclua esse ponto também.

Anfiteatro de longe. Foto: arquivo pessoal

Anfiteatro. Foto: arquivo pessoal
Na hora de voltar, o dilema: e agora? Não tínhamos internet, estávamos quase sem bateria no celular e nenhuma alma viva parou para nos ajudar a sair do Parque (eu teria aceitado uma carona de moto fácil!). Fomos caminhando até a portaria – cujo “porteiro” pilantra não estava mais lá – e, por sorte, havia um homem do lado de fora de uma casa lá perto, que gentilmente nos perguntou se precisávamos de um táxi e que ligaria para nós. Não sei se essa é uma situação comum para ele, mas nós ficamos muito gratos pela caridade.

Portaria do Parque Aquático abandonado de Hue. Foto: arquivo pessoal
No final das contas, o táxi demorou tanto, e cobrou tão caro, que valeria a pena ter voltado a pé mesmo, mesmo que estivesse escuro – o Vietnã não é um lugar perigoso. Por isso, reforço: vale a pena ir de moto, bicicleta ou preparar os cambitos para caminhar bastante para chegar lá a pé.
Dicas preciosas ao visitar o Parque Aquático Abandonado
- Vá de moto ou bicicleta – e passe direto no “porteiro” pilantra;
- Vá no meio da tarde e espere lá até o pôr do sol no lago, é lindo!;
- Se chegar no mesmo lugar que eu, visite primeiro o anfiteatro, pois depois não precisará voltar lá;
- Escolha sapatos fechados e roupas leves;
- Um chapéu ou boné caem bem; protetor solar e repelente de insetos também;
- Câmera, câmera, câmera;
- Vi um pessoal brincando de drone, deve ser legal também. Se tiver, leve;
- Todo cuidado é pouco dentro do dragão: há muitos cacos de vidro e lixo no chão, além de fios soltos etc.;
- Falar nisso: muita gente joga lixo nas construções e na natureza. Por favor, leve o seu lixo de volta com você;
- Se tiver tempo e disposição, faça um piquenique no local;
- Nos toboáguas, não deixe de conferir tanto as piscinas como a entrada do toboágua.

Parque abandonado de Hue. Foto: arquivo pessoal
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Eu jamais conseguirei transmitir o êxtase que foi esse passeio para mim em poucas palavras nesse artigo! Foi uma emoção imensa estar no exato lugar que vi tantas fotos de viajantes e me imaginei lá também. Durante a nossa ida a Hue, que foi de transfer pelo nosso hotel de Hoi An, acompanhados de um casal de ingleses, passamos a dica desse lugar para eles também e vi depois pelo Facebook que eles também foram até lá e adoraram!
Se você é fã de passeios “fora do roteiro”, de aventuras, de fotografia ou mesmo de observação do dia a dia local, não deixe de ir até o Parque Aquático abandonado. Ele é muito mais legal do que eu consegui traduzir nessas linhas e tenho certeza que você vai adorar! Depois volte para me contar 😀 Se precisar de mais dicas, é só pedir pelos comentários.
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